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, e a alegria era sempre uma pressa, 2016

Vídeo, som, cor, 9'08''

Atuando em cenários incompletos, a artista rearranja sombras de cenografias dos bastidores do meio audiovisual. Evidencia assim a artificialidade dos adereços cênicos, figurinos e efeitos de luz e movimento, enquanto descortina e desvia os mecanismos que viabilizam a projeção e a empatia do espectador por personagens e narrativas cinematográficas. . Em , e alegria era sempre uma pressa, Briza imita os trejeitos de Carmen Miranda, encarnação aos olhos do mundo e do Brasil tropical e alegre – que terminou por sucumbir à força imagética de sua personagem.

A alegria era sempre uma pressa, de Claudia Briza, parece já apontar para esse caminho na primeira sala da exposição. Nessa performance para vídeo, a artista imita de maneira exagerada e grotesca os gestos graciosos associados a Carmen Miranda, vestindo os badulaques e balangandãs característicos da cantora, assim como suas caras e bocas, máscaras de uma alegria ensaiada. Esse caráter excêntrico ainda é reforçado pelo cenário constituído pela imitação barata de um muro de castelo medieval que se abre para a vista paradisíaca das águas reluzentes de uma praia tropical. Tudo é escancaradamente cafona, postiço e falso. Uma maneira de apontar para a artificialidade da própria figura da "pequena notável", que se transformou em um ícone de um Brasil exótico para exportação, a ponto de sucumbir à sua própria personagem.  

A ostentação dessa incongruência é mais acentuada por travellings de avanço e recuo da câmera. A artista travestida segue em primeiro plano enquanto a câmera se afasta do cenário antes de voltar ao enquadramento original. O distanciamento da câmera revela todo o aparatode iluminação e de som, os adereços cênicos e os bastidores que sustentam a ficção – seja ela da própria Carmen Miranda, ou, por extensão, a elaboração da ilusão de verossimilhança da imagem e da narrativa cinematográfica.

Olivia Ardui

Junho de 2016

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